Alguém vai precisar
dar um pontapé inicial para que haja mudança na postura das autoridades com
vistas a solucionar alguns problemas e também para mudar os argumentos
requentados e inconsistentes.
Esses argumentos em
nada se diferenciam de roteiro de novela. Não existe uma novela que não tenha
dois irmãos apaixonados, por um desconhecer quem é o pai. Não pode faltar uma
cunhada caidinha pelo marido da irmã ou pelo seu padrasto ou vice-versa; uma série
de traições entre casais e alguns triângulos amorosos, além de alguém sempre
flagrado falando mal de outro. Essas situações cativam os telespectadores, que
vibram com as surras homéricas dadas por franzinos traiçoeiros em gigantes
traidores. É forçado em demasia que o bem se prevalece até no físico.
Todos esses enredos de
novelas após novelas conseguem mantê-las em evidência permanente, com
altíssimos índices de audiência, e até as tornam um dos principais produtos de
exportação do Brasil, com enorme aceitação em vários países do mundo.
Na novela nossa de todo
verão o enredo também é repetitivo, com muitas semelhanças e algumas
divergências essenciais. Começa pela Natureza que, teimosa, é repetitiva em
mandar chuva em determinadas épocas para as regiões aclimatizadas para chover.
Com qualquer chuva, surgem quilômetros de congestionamento nas grandes cidades.
Com chuvas mais intensas, bairros inteiros ficam inundados, produzindo as cenas
rotineiras de pessoas misturadas com fezes, animais mortos e com todo tipo de sujeira.
Quando vêm os temporais, o primeiro problema surge com os institutos de
previsão ao anunciarem que choveu, num dia ou em horas, trezentos por cento do
previsto para todo o mês ou para período de chuvas. Falam com uma naturalidade
assombrosa. Não dizem que ou as chuvas são imprevisíveis ou os institutos podem
preveem tudo, menos chuva.
Algumas diferenças
entre as novelas. Primeiro de roteiro. Na nossa, os personagens são sempre as
vítimas; nas de televisão, os autores e diretores aprecem quando elas estão no
auge; na novela nossa de todo verão, não existe autor nem responsável pela
direção. Na nossa, as personagens são verdadeiras.
No fim é que tudo
difere. A partir da suposição deste texto. A novela real é a fictícia, a de
televisão, e traz sempre um resultado fictício. Aqui, a fictícia é a real, e
traz também o resultado mais real do mundo. Na televisiva, o bem sempre
prevalece; na real, na nossa de todo verão, o mal sempre prevalece no fim. O
autor da novela fictícia assume que é responsável pelo seu final; na nossa, não
existem responsáveis, e o final é conhecido com antecedência.
Os telespectadores de
ambas são reais. Só que os da fictícia vão das favelas aos bairros nobres como
Leblon, no Rio de Janeiro, Morumbi e Alphaville, em São Paulo. Na real,
o público alcançado é sempre da periferia. Pode ser apenas coincidência. A
diferença essencial é que o público participa intensamente da novela fictícia,
mas fica anestesiado em relação à novela real. Existe muito choro em ambas. Na fictícia,
resulta do imaginário; na real, o choro vem pela perda de fato. Mas a principal
diferença é que, de fato, a novela fictícia chega ao fim; já a novela real é
eterna.
E a maior diferença
entre as novelas, é que nas verdadeiras de ficção, as pessoas desaparecem do
telespectador apenas no imaginário; na nossa diária, as mães nunca mais verão
seus filhos, ou estes nunca mais terão suas mães. Os corpos de garotos como os
de Igor Menderson da Silva e Hebert da Silva, em 2010, no bairro de
Americanópolis, São Paulo, dão o prenúncio de que a novela de todo verão só tem
recomeço. Deste ano já começou.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito
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