O tempo, tão impessoal em seu ciclo contínuo sempre nos dá oportunidade para recomeçar, mas geralmente não aproveitamos estas repetidas ocasiões. Nas vinte e quatro horas que temos, o tempo não passa, nós passamos, na verdade fluímos entre os ponteiros vários, as ampulhetas, os displays digitais, e nos tantos aparelhos eletrônicos, computadores, celulares e afins não percebemos que estamos passando e que eles insistem em nos mostrar que o que mais nos falta é tempo. Nem sequer queremos perceber que o tempo existe e está lá para que valorizemos as coisas mais importantes da vida. A despeito do mundo tecnológico, com seu ritmo veloz de trabalho imposto a todos nós, vis mortais, nós que lutamos pela sobrevivência, apesar de toda pressa o dia continua tendo vinte e quatro horas, nem mais, nem menos. O mundo pós-moderno, com suas exigências, competitividades, tão inumano como a máquina, este mundo que exige velocidade, suas máquinas e seus sistemas fazem de nós apressados, gente que corre como se a forma do mundo girar tivesse mudado, mas as leis do universo não mudaram: lentamente, a cada giro do planeta em torno de si mesmo e passando de largo ao redor do sol o tempo do universo continua o mesmo.
Não temos tempo para amar, para plantar um jardim, para nadar; não temos tempo para nada. Alguns se perdem nos seus afazeres e quanto erguem os olhos o sol já tem se posto, as estrelas já perderam seu brilho, a brisa já cessou. O sorriso do filho passa despercebido, o coração aquecido do amor não é notado, as lágrimas de solidão não são percebidas. Falta tempo para sorrir, para perdoar, falta tempo para entender, para decifrar os mistérios da alma humana, não como parar para dedicar minutos preciosos no leve roçar de mãos que não sejam por interesse, cuja motivação não seja apenas se dar bem na vida, crescer profissionalmente ou derrubar o próximo na subida. O relógio corre na ambição individual de cada um, em uma miragem que criamos em nossa própria imaginação, miragem de que com o passar dos anos, séculos e milênios, as voltas que o mundo dá tivesse ficado menores, como se o sol se posse muito mais rápido que antes e não é isso que acontece: a lentidão do cosmos é a mesma, o universo não mudou, apenas que mudou foi à humanidade.
Os méritos do mundo moderno não devem servir de desculpas para justificar tamanha falta cometida por cada um de nós na luta pela sobrevivência. Mas há quem conserte isto? Há quem mude o modo de pensar e não seja considerado louco? Há quem pare para ouvir qualquer outra voz que não seja: Corra! Corra! Se não você não vai conseguir. Falta tempo para os filhos, pra brincar, cantar uma canção de ninar, recitar uma poesia, ou decorar um texto sagrado. Não dá tempo para voltar atrás, reconstruir o que foi destruído, perceber que o ritmo é o mesmo, o ritmo da alma é diferente do ritmo das máquinas, dos lucros, da competição.
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