Levantamento realizado pelo G1 com
base nos dados dos Tribunais Regionais Eleitorais aponta que 14.470
presos provisórios e adolescentes internados irão votar no país neste
ano. O número é 28% inferior ao registrado em 2010, quando a eleição nos
presídios foi padronizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
nacionalmente e 20.099 detentos votaram.
Na
última eleição, apenas o estado de Goiás não teve seções especiais,
como são chamadas as urnas instaladas nas cadeias. Em 2012, além de
Goiás novamente, Mato Grosso do Sul, Pará e Rio de Janeiro também não
terão votação em presídios e em unidades de internação.
Em
outros oito estados - Alagoas, Amazonas, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Roraima, Santa Catarina e Sergipe - haverá apenas votação para presos
adultos. Em Mato Grosso e no Paraná, somente jovens apreendidos poderão
votar. Segundo os TREs dos dois estados, não há segurança para realizar
votação entre os presos.
Nas
quatro penitenciárias federais (Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande
do Norte e Rondônia), com presos em segurança máxima, também não haverá
votação.
De
acordo com a Constituição, são impedidos de votar apenas cidadãos que,
no dia da eleição, tiverem uma sentença condenatória transitada em
julgado (sem possibilidade de recurso). Pelos balanços dos TREs, 8.669
detentos adultos votarão neste ano - 5% do total de presos provisórios
no país (173.818, segundo levantamento divulgado pelo Departamento
Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça, em dezembro do ano
passado).
Os números foram fechados pelos TREs a pedido do G1 na
terça-feira (18) e podem variar até o dia do pleito, pois os presos
provisórios podem ser movimentados ou libertados a qualquer momento.
Serão
instaladas seções em ao menos 205 presídios e centros socioeducativos
para a eleição de 2012. De acordo com o TSE, em 2010 foram 424
estabelecimentos prisionais com votação.
A
Bahia concentra o maior número de presos aptos a participar do processo
neste ano e terá, também, o maior centro de votação em uma só
penitenciária: três seções concentrarão 729 detentos provisórios
eleitores em Salvador.
“Temos
muita dificuldade em usar o voto de presos provisórios porque não é
fácil fazer a previsão até abril, quando fechamos o cadastramento, dos
que ainda estarão presos e irão votar em outubro. Como o próprio nome
diz, o preso provisório está naquela situação e naquele local por tempo
indefinido, podendo ser transferido ou libertado a qualquer momento”,
diz o secretário-geral do TSE, Carlos Henrique Braga.
Menor interesse dos detentosO TSE afirma que, diferentemente das eleições para presidente e governador, o pleito municipal gera menor interesse dos detentos. “Nas eleições federais, o voto é mais amplo. Já nas municipais, nem sempre o preso tem algum vínculo com o município no qual está preso. Depende da vontade dele de querer transferir o voto”, diz o procurador-geral eleitoral de São Paulo, André de Carvalho.
Menor interesse dos detentosO TSE afirma que, diferentemente das eleições para presidente e governador, o pleito municipal gera menor interesse dos detentos. “Nas eleições federais, o voto é mais amplo. Já nas municipais, nem sempre o preso tem algum vínculo com o município no qual está preso. Depende da vontade dele de querer transferir o voto”, diz o procurador-geral eleitoral de São Paulo, André de Carvalho.
“Em
alguns casos também falta documentação ou o próprio local alega não ter
condições logísticas de abrigar a seção, pois não é fácil coordenar e
movimentar os presos no dia", afirma o procurador.
Coordenador
da Campanha Nacional Voto dos Presos, o advogado Rodrigo Tönniges
Puggina participou da elaboração da norma do TSE que implantou a eleição
nas cadeias em 2010. Ele se diz “surpreso” com a redução no número de
votantes. “É com muita tristeza que vejo isso. Muitos presos estão em
cidades que não têm importância para eles e não querem transferir o
título”, diz.
“Me
surpreendi com um preso que pediu para votar em 2010. Ele disse que o
voto dele valia o mesmo do que de um grande empresário. Naquele dia, os
dois tinham o mesmo peso, o mesmo valor na sociedade”, acrescenta o
advogado.
Decisão nas mãos do juizApesar
de alguns estados tentarem realizar o pleito entre detidos desde 2002, o
direito só foi regulamentado em 2010 pela resolução 23.219 do TSE,
assinada pelo então presidente da Corte, Ayres Britto.
Segundo
o texto, a instalação das urnas depende das condições de segurança e
exige ao menos 20 eleitores aptos para que a urna eletrônica seja levada
ao local.
O
texto do tribunal para a votação de 2012, porém, recomenda a criação de
uma seção em locais com pelo menos 50 eleitores. A maioria dos juízes
ainda segue o entendimento de 20 eleitores.
Nos
estados, são os magistrados que decidem se a seção será ou não
instalada. “É responsabilidade dos juízes analisar a viabilidade da
seção, para garantir tranquilidade e lisura. Juízes eleitorais visitam
os presídios, conversam com o diretor, com os policiais, para saber se é
seguro a urna no local”, diz o secretário-geral do TSE.
Na
Unidade Penitenciária Moacir Prado, em Tarauacá (AC), como o eleitorado
apto não chega a 20 – são apenas 18 presos com condições de votar –, a
Justiça Eleitoral decidiu não criar a seção neste ano. O TRE informa que
estes detentos não irão depositar o voto.
Seção para apenas um eleitor
Já
no Amazonas, em uma delegacia de Boca do Acre, a 1.028 km de Manaus e
na divisa com o Acre, a seção eleitoral 65 da zona 14 foi criada para
apenas um preso votar.
A analista judiciária Glaucia Oliveira, responsável pela seção, diz que a seção 65 não foi anexada a nenhuma outra seção e irá funcionar normalmente.
A analista judiciária Glaucia Oliveira, responsável pela seção, diz que a seção 65 não foi anexada a nenhuma outra seção e irá funcionar normalmente.
“Houve
um prazo estipulado para agregação e, neste período, a seção da
delegacia não foi anexada. Ela vai abrir normal, o preso vai votar e vai
ficar funcionando no horário de votação para que o público em geral
possa fazer justificativas”, explica Glaucia.
Para o advogado Puggina, a informatização não pode ser desculpa para que “centenas de milhares fiquem alijados” do processo eleitoral. “Acho que, em alguns lugares com pouco público, em que não é viável a urna eletrônica, seria possível fazer a votação manual, no papel”, defende.
Para o advogado Puggina, a informatização não pode ser desculpa para que “centenas de milhares fiquem alijados” do processo eleitoral. “Acho que, em alguns lugares com pouco público, em que não é viável a urna eletrônica, seria possível fazer a votação manual, no papel”, defende.
“O
TSE diz a verdade quando alega dificuldades estruturais (para o voto de
presos). Apesar de ser um direito, eles estão em trânsito e, muitas
vezes, angustiados com sua situação, nem querem exercer sua cidadania”,
diz Martins de Almeida Sampaio, presidente da Comissão de Direitos
Humanos da OAB. “Podemos ver que o voto é ainda um direito incipiente
dos presos."
Justificativa e propagandaSegundo
o secretário-geral do TSE, os presos que não votarem precisarão
justificar o voto. Isso pode ser feito no mesmo dia, em presídios ou
centros de internação em que haverá seção, ou após a libertação.
Em
São Paulo, alguns centros de detenção podem enviar às zonas informações
dos detidos, para que seja feita uma justificativa conjunta.
“Muitos
detentos são de casos em flagrante ou prisões preventivas, que podem
ser relaxadas a qualquer momento. Se o preso é de outra cidade, nem
sempre desperta nele o interesse em transferir o título. Por isso o
número de votantes caiu", diz o juiz corregedor dos presídios da
capital, Ulysses de Oliveira Gonçalves Júnio.
Em
2010, 1.464 presos provisórios votaram no primeiro turno da eleição
presidencial no estado. Em 2012, serão apenas 790, conforme a Secretaria
de Administração Penitenciária. São Paulo tem o quarto maior colégio
eleitoral prisional do país, atrás de Bahia, Minas Gerais e Pernambuco.
Em
São Paulo, os presos têm direito a assistir à propaganda política na TV
“para obterem informações sobre os candidatos”, diz Gonçalves Júnior.
Ouvidos pelo G1,
magistrados, advogados e especialistas não acreditam na interferência de
facções no voto de presos e ressaltam que os partidos não estão
buscando este público. "Em 2010, o voto das prisões acompanhou a posição
da população externa às grades", diz o ativista Rodrigo Tönniges
Puggina.
Projeção para o futuroPara
ampliar o número de presos votando nos próximos pleitos, o TSE aposta
no sistema biométrico de registro de eleitor (através da digital), que
foi implantado para as eleições deste ano nos estados de Alagoas e
Sergipe, além de três capitais (Goiânia, Curitiba e Campo Grande). A
previsão é completar a inclusão de toda a população brasileira no
registro biométrico nos próximos 8 anos, afirma o secretário-geral do
tribunal, Carlos Henrique Braga.
Em
Alagoas, a biometria facilitou a votação dos presos, diz o juiz
eleitoral Domingos de Araújo Lima Neto. “Todos os presos, por serem
cidadãos, foram recadastrados, permitindo que o voto ocorra em qualquer
lugar e sem risco de fraudes”, afirma o magistrado.
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