O final da tarde nos leva a refletir, principalmente quando estamos sós. Eu que já passei muitos finais de tarde na solidão dos rios e lagos de Coari, posso falar com propriedade sobre o que é parar para pensar no final da tarde. Cinco bons anos da minha vida passei trabalhando na Zona Rural de Coari, viagens que proporcionavam de 15 a 20 dias de afastamento da Zona Urbana e me levava aos recônditos mais distantes do interior do nosso município... Que horas aquelas, no silêncio das matas e rios, vendo muitas águas passando e o sol lentamente recolhendo-se ao seu leito, ao tempo que os barulhos dos insetos da noite começavam a zunir. Se não fora a chegada das carapanãs, o anoitecer era perfeito. A perfeição que não havia no Solimões, encontrava nos lagos.
Mas a tarde, e seu silêncio inspirativo ainda marca minha memória, momento para refletir e ler. Outras recordações das tardes remontam minha infância, quando ainda morava no Taua-Mirim e a voz do Zeca Cruz tocava musicas variadas e o tom noticioso chamando o povo para os avisos e comunicados. Já nas tardes da minha adolescência foram muitos os momentos de joelhos, na igreja, orando e refletindo, buscando a Deus. As tardes de minha juventude foram marcadas por uma freqüência de orações e meditações. Lembro também, a voz eloqüente do Padre Jackson nos finais da tarde de Coari: eu evangélico, ouvia aquela palavra contundente, e gostava, pois aquele religioso falava com sabedoria e prendia a atenção de todos nas tardes de Coari. Ainda que não gostasse quando ele incitava alguma animosidade religiosa, mas sabia separar o joio do trigo, e entender aquela voz convincente falando de Deus. Faz falta padres como Dom Jackson.
Finais de tarde, convite para refletir, e aqui estou eu, pegado com meus pensamento, só eu e o computador na esfera material. Novamente ouço o som das músicas que à medida que o tempo passa vão diminuído o volume pouco a pouco e as pessoas correm para o televisor com o propósito de acompanhar as notícias de tudo o que aconteceu no mundo. Uns caminham para a escola, outros chegam do trabalho. A atividade crônica que me prendia ao labor intenso deu uma trégua, me dando condições de novamente usar as tardes para refletir, pensar e escrever.
Se as pessoas parassem pelo menos um pouco no final da tarde, e refletissem como se não estivessem na selva de pedra, e olhassem com candura para a própria infância, encontraria motivos para levar a vida com um pouco mais de lentidão e responsabilidade, em quem sabe até ouvir a voz de Deus no silêncio da noite que se aproxima.
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